Infografia: A Influência Romana na Viticultura de Portugal

A chegada do Império Romano redefiniu profundamente a enologia e a viticultura no presente território de Portugal. Através de avanços tecnológicos, de práticas agrícolas sistemáticas e de uma rede comercial tentacular, os Romanos transformaram o vinho num pilar da cultura e da economia.

As suas inovações não só elevaram a qualidade e a eficiência da produção, mas também lançaram as bases das grandes regiões vitivinícolas da Europa (incluindo as portuguesas). Regiões como o Dão e o Douro tiveram certamente uma génese informal - ainda que não documentada - com o advento do domínio de Roma.

A Engenharia Romana da Vinha

Inspirados nas tradições gregas e etruscas, os Romanos desenvolveram técnicas e sistemas como a vinea e o arbustum: a primeira consistia de uma estrutura baixa de latada que maximizava a circulação de ar e a exposição ao sol; a segunda mais não era que o crescimento das videiras apoiadas em árvores, tal como sucede com as agora raras ‘vinhas de enforcado’.  Ao reduzirem a incidência de doenças, estas inovações aumentaram a produtividade e melhoraram a qualidade das uvas colhidas.

Os Primórdios da Ideia de Terroir

A noção de terroir apenas surgiu durante a Idade Média. No entanto, os Romanos já compreendiam que a interação entre solo, clima e relevo influenciava o carácter do vinho obtido a partir das videiras de um dado terreno. Isto levou a que adotassem castas e estratégias de cultivo específicas para cada local. As encostas vulcânicas do Monte Massico, por exemplo, eram especialmente valorizadas como local de nascimento do célebre e complexo vinho Falerno.

A Expansão Romana para Novas Regiões

As campanhas militares e posteriores colonizações romanas impulsionaram a disseminação da viticultura muito para além da Península Itálica. Após lhes serem atribuídas terras, os legionários reformados plantaram vinhas em locais que mais tarde se tornariam centros vitivinícolas de referência. Casos bem conhecidos foram Bordéus e Borgonha na atual França, Rioja em Espanha e Mosela na Alemanha.

Para isso, tomavam a presença espontânea das azinheiras (Quercus ilex) como um indicador de solos e climas adequados para a vinha. Este foi um critério prático que ajudou a estabelecer a viticultura em muitas outras áreas da Europa. Os antigos soldados de Roma também tinham por hábito cultivar castas autóctones lado a lado com variedades tipicamente romanas. Tal processo de fusão viria a ditar muito do carácter contemporâneo das uvas portuguesas, por exemplo.  

Já os mercadores romanos introduziram o vinho como um bem de luxo entre as tribos celtas. Esta dinâmica viria mais tarde a justificar o início das produções locais, as quais eram escoadas através das vias terrestres romanas ou através do transporte em grande escala nos rios e centros costeiros.

A Adoção de Barris de Madeira

Uma das inovações mais influentes dos Romanos foi a substituição das frágeis ânforas de barro por barricas de madeira com génese celta. Estas barricas facilitavam o comércio e o envelhecimento gracioso do vinho: além de serem muito resistentes ao transporte de longa distância, os barris de carvalho, em particular, transmitiam ao vinho maior complexidade através de processos graduais de oxidação e libertação de taninos.

O Controlo da Fermentação e Qualidade do Vinho

Os Romanos foram igualmente pioneiros no aperfeiçoamento da fermentação. Columela, em De Re Rustica, aconselhava o uso de tanques de fermentação revestidos de pedra (lacus) e o controlo da temperatura para evitar a deterioração do mosto. A adição de mel ou de resinas (à semelhança do retsina grego da atualidade) ajudava a mascarar defeitos e prolongava a longevidade do vinho.

Por outro lado, o uso de câmaras de fumigação (as fumaria onde os barris eram expostos a enxofre) estabilizava os vinhos e prevenia a oxidação excessiva. Foi também no período romano que surgiu a noção de ‘safra’ – os anos excecionais, como o da colheita Opimiana (121 a.C.), adquiriram um estatuto lendário graças às perfeitas condições de maturação.

As Ânforas e o Comércio Marítimo

Apesar da adoção dos barris, as ânforas continuaram a desempenhar um papel capital no comércio romano. Estas eram marcadas para indicar a origem e a qualidade do vinho. A descoberta de falsificações em marcas de ânforas na Provença revelou as primeiras tentativas de fraude comercial e impulsionou rudimentares medidas de controlo de denominação de origem.

A série de ânforas Dressel 2-4, produzida na Campânia, dominava as exportações e chegou a mercados tão distantes como a Índia. Ao estabelecerem a ponte entre o Mar Vermelho e o Oceano Índico, as vastas redes comerciais romanas permitiram a troca de vinhos por sedas e especiarias.

Políticas Económicas e Regulação do Mercado Vinícola

O Édito de Domiciano (92 d.C.) ilustra a tentativa de Roma em controlar a economia do vinho. Para conter a escassez de cereais, o imperador proibiu a plantação de novas vinhas na Península Itálica e ordenou a destruição de metade dos vinhedos provinciais. Embora de aplicação irregular, esta medida teve notável impacto negativo na produção da Gália e da Península Ibérica.

Legado e Impacto de Longo Prazo

A junção entre os avanços técnicos e as vastas redes comerciais fez do vinho um elemento basilar da economia romana. Ao transformarem a viticultura numa ciência e o vinho num produto pan-europeu, os Romanos lançaram as fundações da identidade vinícola através do nosso continente – incluindo em Portugal.