Longa e ilustre, a história do vinho em Portugal teve a contribuição de inúmeros atores ao longo dos milénios. Da sua génese distante pouco se sabe e muito se especula. Esta infografia tenta sintetizar alguns dos conhecimentos (ou suposições informadas) acerca do percurso inicial da vinha e do vinho naquele que se tornaria o território dos Portugueses atuais.
Associada ao final da Cultura Cardial, a presença da videira (Vitis vinifera) no futuro território de Portugal remonta, pelo menos, a cerca de 5000 anos antes de Cristo. Mas é, provavelmente, muito mais antiga - hoje é aceite que a área de distribuição natural desta planta se estendia do Cáucaso, a oriente, à Península Ibérica, a ocidente. No Paúl dos Patudos (Vale do Tejo), fósseis de pólen datados de 4580 a.C. indicam a existência de videiras em baixa densidade. Séculos depois, em 2590 a.C., a sua implantação já estava disseminada.
Nesta época, muitas das florestas de pinho ou carvalho começaram a dar lugar à agricultura e à pastorícia. No entanto, apesar de poderem ter sido valorizadas como fonte de recursos alimentares, as videiras presentes no território ainda eram fundamentalmente selvagens.
A Idade do Cobre ainda não veiculou evidências diretas do cultivo da videira. Este período foi marcado por uma intensificação agrícola e por avanços tecnológicos no cultivo. As povoações fortificadas e maior complexidade social são sugestivas de práticas agrícolas bem organizadas. Este pode ter sido o período no qual ocorreu a domesticação das videiras na Península Ibérica.
São desta altura os primeiros indícios de viticultura no território (2300 – 800 a.C.). Alguns vestígios arqueológicos, como sarmentos e grainhas carbonizadas, parecem indicar formas de cultivo sistemáticas. As alterações na ocupação do território e as práticas agrícolas generalizadas - incluindo deflorestação significativa - terão favorecido a expansão da videira. O isolamento geográfico da região também deve ter permitido a preservação de variedades autóctones que mais tarde se tornariam um pilar distintivo da enologia portuguesa. Apesar destes avanços, a produção de vinho ainda era muito embrionária.
Os Tartéssios podem ter sido os pioneiros na prática da viticultura na Península Ibérica. Os jarros de bronze atribuídos a esta civilização talvez indiquem uma relação mais sólida com o vinho. A sua proximidade com Fenícios e Gregos facilitou a troca de conhecimentos vitivinícolas e preparou o caminho para o futuro desenvolvimento da vinificação sistemática.
Os Fenícios introduziram novas castas com origem no Médio Oriente, algo que enriqueceu a diversidade genética da vinha na região. Foram responsáveis pela expansão da viticultura ao estabelecerem vinhedos nos seus entrepostos nas zonas costeiras. Além disso, fomentaram o comércio do vinho. O intercâmbio cultural que promoveram ajudou a consolidar práticas vitivinícolas que viriam a evoluir nos séculos seguintes.
Os Gregos ampliaram ainda mais a área de cultivo da vinha no vindouro território nacional. Trouxeram consigo inovadoras técnicas vitivinícolas que melhoraram os métodos locais de produção e vinificação. O vinho aqui produzido era de tal qualidade que os Gregos o exportavam para a sua distante terra natal. A herança grega pode ter contribuído para a formação de algumas castas portuguesas.
É possível que os Celtas tenham começado a cultivar a vinha no norte peninsular. Isto teria ocorrido há cerca de 2500-3000 anos. Achados arqueológicos em povoados celtiberos também indicam a presença de grainhas datadas do século III antes de Cristo. Ainda assim, estes povos privilegiavam a produção de cerveja e de hidromel. Esta preferência só viria a mudar com a chegada dos Romanos. O verdadeiro avanço técnico celta viria com a introdução de utensílios de ferro na agricultura e com a sua tanoaria incipiente.